RECUPERAÇÃO, UNIDADE E SERVIÇO

INTRODUÇÃO
            O nosso tema de hoje, nada mais é do que as principais heranças dos setenta e cinco anos de Alcoólicos Anônimos, que são os Três Legados de A.A. Estes legados nós os encontraremos para fins didáticos no livro A.A. Atinge a Maioridade, baseado em três palestras de Bill W. quando do vigésimo aniversário da  irmandade. A primeira conta a história das pessoas e das correntes de influências que tornaram possível a recuperação em A.A., principalmente da vivência dos Doze Passos de A.A.. A segunda mostra a experiência de como foram recebidas as Doze Tradições de Alcoólicos Anônimos, que até hoje mantêm A.A. em unidade. E a terceira como A.A. desenvolveu os Serviços que levam sua mensagem aos mais longínquos lugares da terra, mas para isto era preciso uma coisa, a recuperação que é a base de tudo e pois isto é primeiro legado de A.A.
RECUPERAÇÃO
            Quando bebíamos, tínhamos uma vida irregular. Éramos desacreditados por nossas ações. Não saldávamos os nossos compromissos. Éramos agressivos, indolentes, insolentes, não tínhamos fé e nem amor próprio. Fazíamos de nossas vidas eterno sofrimento para nós e para todos aqueles que nos cercavam com o seu amor. Era um desespero só. Muitos de nós bebíamos para dormir e acordávamos para beber. Não víamos nada a nosso redor. Nada nos preocupava. Tudo estava bom, desde que tivéssemos a nossa saída – o álcool. Metíamo-nos nas mais variadas confusões e tentávamos dar solução aos problemas dos outros, mas os nossos, nós não os víamos. Muitos de nós atingimos os mais variados tipos de fundo de poço que eu chamo de sarjetas.
            Sarjeta física – quando não cuidávamos com acerto do maior patrimônio que Deus nos deu, a vida, que em nossa matéria frágil, era agredida por doenças que poderiam ser evitadas.
            Sarjeta moral – quantos de nós não mentimos? Trazendo desgastes para a nossa imagem; tivemos problemas, com a justiça, cartórios, SPC e SERASA.  Tivemos o descumprimento da palavra, envolvimento com agiotas, prisões, detenções, brigas, ou éramos escorraçados dos locais em que estávamos. Episódio da festa de aniversário e o caso do bar do Cardoso (66) da Floriano Peixoto.
            Sarjeta material financeira – desfazíamos de nosso patrimônio, vendendo ou trocando nossos bens por doses alcoólicas; ou deixávamos nossos salários, quando ainda os tínhamos, nos bares e comércios escusos e nos endividávamos sem responsabilidade.
            Sarjeta profissional – quantos de nós não perdemos o emprego, pela ausência de vontade de vencer.
            Sarjeta sentimental – quem de nós em algum momento da vida não se sentiu abandonado pelos seus entes queridos? Enquanto outros viam seus lares desfeitos? (fuga dos filhos).
            Sarjeta espiritual – muitos de nós já não tínhamos crença em nada.  Deus, era simplesmente um vocábulo, nada representava para alguns de nós, pois, queríamos nós mesmos desenvolver as atribuições divinas e nunca dava certo, é claro.
             De uma forma ou de outra, muitos de nós causávamos danos as nossas famílias. Maltratava-a com palavras e atitudes. Deixávamos que passassem privações, éramos sovinas. Quem de nós não escondeu dinheiro da família ou negava não tê-lo? Em outras ocasiões, simplesmente, não tínhamos mesmo, pois, o havia gasto até a exaustão. Quem de nós em algum momento não envergonhou a família com o nosso comportamento diferente dos outros? Situações estas que causaram traumas irreparáveis aos nossos filhos, esposas, pais e irmãos. Alguns de nós roubamos e até matamos na inconsciência do álcool. Éramos, portanto, um zero a esquerda. E Assim foi a nossa caminhada até chegarmos em A.A. e muitos de nós sem o desejo de querer parar de beber. Queríamos apenas encontrar uma fórmula de controlar a bebida. Mas éramos idealistas falidos.
            Mas quando se fala em recuperação, para muitos, basta para de beber e vir as reuniões e pronto. Tudo como em um passe de mágica está resolvido. Mas na realidade, ao aqui chegarmos, encontramos nossos padrinhos e companheiros ávidos para nos dar segurança, compreensão e amor. Mas eles nos disseram da necessidade de nossa vontade, pois iríamos fazer um programa de fé, de renúncia, de tolerância, de aceitação, de paciência, de humildade, de honestidade e acima de tudo de amor e tudo estava em nós. Era preciso que tivéssemos a chave da boa vontade e a mente bem aberta para termos uma nova modalidade de vida. Então nos disseram da necessidade de crescermos espiritualmente e para isto, nos apresentaram os Doze Passos de A.A., onde com certeza, encontraríamos a solução de todos os nossos problemas. Ali aprenderíamos a fazer uma reformulação de vida, modificando nossos pensamentos e conceitos. Ali sim começaríamos a nossa verdadeira recuperação.
            A nossa recuperação individual vai se solidificando na medida em que aprendemos a lidar com os problemas de ordem moral e espiritual:
            - Admitindo a nossa impotência perante o álcool e que tínhamos perdido o domínio de nossas vidas. O que significa a derrota total;
            - Acreditando em um Poder Superior a nós mesmos e entregamos a ele a nossa vontade e a nossa vida;
            - Fazendo um inventário moral de nós mesmos e admitindo perante Deus, perante nós mesmos e a outro ser humano a natureza de nossas falhas;
            - Nos prontificando a deixar que Deus remova esses defeitos de caráter e rogamos que Ele nos livre de nossas imperfeições;
            - Fazendo uma relação das pessoas a quem tínhamos prejudicado e fazendo reparações diretas, sempre que possível.
            - Reativando sempre o nosso inventário moral e admitindo nossos erros;
            - Meditando e orando para melhorar nosso contato consciente com Deus, e
                        Enfim, aprenderíamos a perdoar e a pedir perdão; a entendermos ao nosso próximo; a dividir responsabilidades e a buscar a todo custo a humildade, a paz e o amor ao próximo. Com a prática destes princípios criaremos a necessidade de levarmos esta mensagem a outros sofredores que no futuro serão os nossos líderes e conosco trabalharão a coisa mais preciosa para a sobrevivência do Grupo, que é a
UNIDADE
             Ela nos é estabelecida pela prática das Doze Tradições, que é a nossa cartilha de convivência entre nós e para com a sociedade. As Tradições são frutos de erros e acertos que redundaram em experiência. Nós sabemos que por sermos seres humanos, temos muitos defeitos individuais e consequentemente, que nossa Irmandade, enquanto sociedade, ainda tem muitas falhas que nos ameaçam continuamente.
             As Tradições nos ensinam a necessidade de deixarmos o orgulho e ressentimento de lado, para que o grupo floresça.
            Elas pedem pelo benefício do Grupo, bem como pelo benefício pessoal.
            Elas pedem para nunca usarmos o nome da irmandade na busca de poder pessoal, fama ou dinheiro.
             As Tradições garantem a igualdade de todos os membros e a independência de todos os grupos.
             Elas nos mostram como podemos funcionar melhor em harmonia como um todo e como nos relacionar, uns com os outros e com o mundo lá fora.
             Em consideração ao bem-estar de toda nossa irmandade, as Tradições pedem a cada indivíduo, cada grupo e cada setor de A.A. que ponham de lado todos os seus desejos, ambições e ações inconvenientes que possam causar sérias divisões entre nós ou a perda de confiança que nos deposita o mundo todo
            As Doze Tradições de Alcoólicos Anônimos simbolizam a caracterização de sacrifício de nossas vidas em comum e elas constituem a maior força de unidade que conhecemos.
            No que tange a unidade, a Tradição mais específica é a Primeira que nos diz: “Nosso bem-estar comum deve estar em primeiro lugar; a reabilitação individual depende da unidade de A.A.”.  É provável que nenhuma sociedade valorize tanto o bem-estar pessoal dos membros como faz A.A. e há muito tempo aprendemos que o bem-estar comum deve vir em primeiro lugar; sem isso haveria muito pouco bem-estar pessoal.
            No princípio nos sentimos mais ou menos como Eddie Rickenbacker e sua tripulação, quando o avião em que viajavam caiu no Pacífico. Eles foram salvos da morte, mas se viram flutuando num mar muito perigoso. Não havia dúvida em suas mentes de que o bem-estar comum vinha em primeiro lugar. Ninguém ousava balançar a balsa, a fim de que todos não fossem colocados em perigo. O pão e água eram repartidos igualmente; não havia glutões.
            O nosso caso era muito parecido com esse, mas alguns de nossos membros doentes e negligentes balançaram a balsa, e isso nos deixou em pânico.
            O principal temor era o de deslizes e recaídas. 
            Outro grande temor foi o dos romances fora do casamento.
            Mas com paciência e bondade, as situações foram pouco a pouco se modificando. Hoje, já não nos mete medo.
            Mas com outras sociedades, logo descobrimos que havia forças entre nós que poderiam nos ameaçar de uma maneira que o álcool e sexo não poderiam. Eram elas:
            - Desejos de poder   – Domínio    – Fama    – Dinheiro.
                        Essas forças eram mais perigosas, porque eram invariavelmente motivadas pela hipocrisia, autojustificação e poder destruidor da raiva, que geralmente se disfarça como indignação justificada.
            O orgulho, o medo e a raiva são os inimigos fundamentais de nosso bem-estar comum. O verdadeiro companheirismo, harmonia a amor, fortificados pelo conhecimento claro e práticas corretas, são as únicas respostas. E o propósito dos princípios tradicionais de A.A. é levar essas forças ao máximo e mantê-las aí. Somente então pode nosso bem-estar comum ser alcançado; somente então pode a unidade de A.A. tornar-se permanente. Sempre que eu falo em unidade, me lembro do Grupo Santa Rita de Cássia de Nioaque – MS (contar a história do Grupo): Alteração do nome; falar duas horas; limpeza coletiva; mensagens na aldeia indígena; reunião do comitê; visitas aos próprios membros.
            Como vimos ali naquele grupo Rita de Cássia, existia uma grande compreensão entre os companheiros e muito trabalho para que o grupo crescesse e a esse trabalho, nós chamamos de serviço.
SERVIÇO
Em A.A. quando falamos em serviço, logo salta a mente os encargos de junta de serviços de grupos, comitês, setores, áreas e daí para frente, que são os servidores escolhidos através do voto.
            Ocorre que o Décimo Segundo Passo de A.A., levar a mensagem, é o serviço básico que a nossa irmandade oferece. É o nosso principal objetivo e a razão primordial de nossa existência.
            A.A. é uma sociedade de recuperados em ação. Precisamos levar a mensagem de A.A.,caso contrário, nós mesmos podemos cair e aqueles a quem não chegou ainda a verdade podem morrer. Por isto, dizemos que em A.A., ação é a palavra mágica. A ação de levar a mensagem de A.A. é, portanto o coração de nosso terceiro legado – o Serviço.
            Mas o que é o serviço em A.A.?
            Um serviço em A.A. é qualquer coisa que realmente nos ajude a alcançar companheiros que estão sofrendo.
            A publicidade que permite ao provável membro entrar em contato conosco, o carro no qual o transportamos, a gasolina que gastamos, as xícaras de café que lhe pagamos – todas essas ajudas foram necessárias para fazer nossa visita possível e eficiente. E isso é só o começo. Nossos serviços envolvem locais de reuniões, cooperação com hospitais, escritórios de intergrupos, folhetos e livros. Os serviços podem precisar de comitês, delegados, custódios, conferências, encontros, seminários, simpósios, etc. Tudo isso incluem pequenas contribuições voluntárias em dinheiro para que o grupo, a área e A.A. como um todo possam funcionar. Os serviços abrangem, desde a xícara de café até a Sede de Serviços Gerais para a ação nacional e internacional. A soma de todos esses serviços é o Terceiro Legado de A.A.. Tais serviços são absolutamente necessários para a existência e crescimento de A.A.. Mas, companheiros já pensaram em simplificar todo esse trabalho, pois seria maravilhoso não se ter preocupações, nem políticas, nem despesas e nem responsabilidades! Quem iria abrir a sala, fazer o cafezinho, coordenar a reunião ou tomar conta do dinheiro? Mas isso é apenas um sonho acerca da simplicidade; isso, na verdade não seria simplicidade. Sem seus serviços essenciais, A.A. se converteria rapidamente numa anarquia disforme, confusa e irresponsável.
            Aqui não quero me prender aos serviços eletivos de grupo ou de outros setores, por entender que sabemos da necessidade desses serviços para a o bom funcionamento dos mesmos e que para isto, existe o Manual de Serviços que trata especificamente de cada encargo, mas quero trazer à baila a nossa responsabilidade quanto ao serviço, seja qual for. Se nós o assumirmos, deveremos ter consciência de que é através daquele simples serviço, que poderemos ajudar aqueles que nos procuram com os seus problemas. Portanto, varrer a sala, limpar as cadeiras, ligar um ventilador, fazer e servir o cafezinho, coordenar a reunião, representar o grupo, distribuir panfletos, e até contribuir com sacola dentre outros, são serviços igualmente importantes, pois visam à concretização do Décimo Segundo Passo, que é o maior de todos os serviços de A.A.

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