COMITÊ DE DISTRITO SOARES MORENO A.A. UM CAMINHO SEM FRONTEIRA – UMA MENSAGEM UNIVERSAL


Sabemos que em A.A. não fazemos discursos, simplesmente falamos a respeito das nossas próprias experiências e das experiências daqueles que nos cercam, ou seja, transmitimos a mensagem ao alcoólico que ainda sofre (5º Tradição). Não podemos falar deste tema sem voltar um pouco no tempo. No início de A.A., quando aconteceu a primeira abordagem do Ebby ao Bill.  Quando Bill estava internado no hospital Charles B., no Central Park, o Dr. Sikwort pensou que ele pudesse ali se recuperar. Mas, o Dr Silkwort com sua maneira  gentil, tentava transmitir a Lois (esposa de Bill) as más notícias que tantas mulheres e maridos têm recebido. Bill era um caso sem esperança. Que a maneira de beber de Bill tinha se tornado um hábito, uma obsessão, uma verdadeira loucura que o induzia a beber contra o seu desejo. Em setembro de 1934, depois de muitas internações, que duraram cerca de dois anos, foi que Lois e Bill ficaram sabendo pelo médico, qual era realmente o seu estado. Depois de deixar o hospital naquele mesmo mês, Bill se manteve sóbrio durante algum tempo, devido a um grande medo e vigilância constante. Mas no dia da comemoração anual do armistício de Compiègne, (tratado assinado em 11 de novembro de 1918 entre os países aliados e a Alemanha por ocasião da primeira grande guerra), as coisas desabaram. Bill voltava a beber. Certa tarde, Ebby telefonou para Bill, dizendo que não estava mais bebendo e que tinha religião, o que deixou Bill boquiaberto. Ebby falou que estava se encontrando com um grupo de pessoas dentro do Grupo Oxford (grupo de religiosos absolutistas), apesar de não concordar com tudo que eles ensinavam. Falou que tinha de admitir o quanto estava derrotado, devendo fazer um inventário de si mesmo e confessar suas falhas/defeitos a outra pessoa, em confidência. Aprendeu que precisava reparar danos que tinha causado a outros, que deveria encontrar uma maneira de dar de si mesmo, sem usufruir benefícios pessoais e que deveria orar para qualquer Deus, que achasse que tinha um Poder Superior. Ao levar a mensagem, Ebby não pressionou, nem evangelizou.
                Um dia, Bill estava bastante sensível e fez uma visita ao Grupo Oxford. Depois dessa visita, ele voltou a beber, o que o levou a mais um internamento, quando Ebby o visitou. Após esta visita, Bill teve um despertar espiritual, chamando por Deus e entregando sua vida aos seus cuidados. Conversando com o Dr. Silkwort sobre a visão que teve, foi esclarecido por ele de que não estava louco, mas que algo tinha acontecido, talvez, algum fato a nível psicológico ou espiritual. O Dr. Carl Jung já tinha comentado ao amigo de Ebby do Grupo Oxford, sobre o fundo de poço e o Dr Silkwort também já tinha falado a mesma coisa para Bill. Quando Bill leu o livro de William James – Variedades de Experiências Religiosas, chegou à conclusão de que somente o testemunho do Dr. Silkwort nunca iria fazer com que ele aceitasse completamente o veredicto, mas quando Ebby chegou e começou a falar com ele, a coisa deu certo.
                Em 1935, Bill perdeu o emprego na Companhia de Ferramentas, ficou decepcionado e entrou em pânico com medo de beber.  Estava só no hotel, quando se deparou com uma relação de igrejas e seus endereços. Telefonou para o Padre Episcopal Walter Tunks, mais tarde um grande amigo de A.A. e contou seu problema. O Padre percebeu a gravidade da doença de Bill e visualizou duas pessoas bêbadas, então entregou a Bill uma lista de dez pessoas que poderiam lhe orientar. Quando Bill começou a telefonar, para as pessoas, observou que algumas não estavam em casa e outras não estavam interessadas e davam desculpas. A lista ficou reduzida a um só nome que estava no final da relação – Srª Henrietta Seiberling. Depois de relutar um pouco, Bill telefonou e para sua surpresa, atendeu uma jovem, nora da Srª Henrietta. Bill falou do seu problema e que era do Grupo Oxford de Nova York. A jovem o compreendeu e falou que não era alcoólica, mas tinha tido problemas e que encontrou suas respostas nos Grupos Oxford. Então Bill contou a sua história e ela disse que conhecia uma pessoa que já tinha feito de tudo, mas queria parar de beber. (Dr. Bob). Assim, começava a história da formação de Alcoólicos Anônimos. Henrietta  telefonou para a esposa do Dr. Bob, falando a respeito de Bill,  um alcoólico de Nova York que desejava falar a respeito do problema de bebida. Era o dia das mães e o estado do Dr. Bob não era nada bom. Antes de ir conversar com o Dr Bob, o Dr. Silkwort já tinha o alertado de seus fracassos nas abordagens, porque Bill estava pregando aos alcoólicos. Portanto o dia 10 de junho de 1935 foi o dia em que o Dr. Bob bebeu pela última vez, sendo considerado o dia da formação de Alcoólicos Anônimos, com Bill e Dr. Bob sendo seus idealizadores.
                Não podemos deixar de registrar a gratidão eterna que os AAs têm para com Henrietta Seiberling, que foi quem uniu o Dr. Bob a Bill.  Das dez pessoas que tinham sido indicadas pelo Clérigo Walter Tunks, Henrietta foi a única que compreendeu e se interessou o suficiente. Bill trabalhou com alguns alcoólicos nos Grupos Oxford, outros na missão do calvário e alguns no Hospital Tows do Charlie.
                Em 1937 Alcoólicos Anônimos já tinha a conclusão de que quarenta alcoólicos estavam sem beber, ficando claro que essa mensagem um dia iria dar a volta ao mundo. Mas essa preciosa experiência estava ainda nas mãos de poucos. Com o crescimento de Alcoólicos Anônimos, começaram a surgir as dúvidas. Precisaria que todo alcoólico viesse à Nova York ou a Akron para se recuperar? Não, isso nunca se conseguiria, seria impossível. Como poderíamos difundir nossa mensagem? (5ª Tradição e 12º Passo). Os alcoólicos mesmo sóbrios estão longe de serem pessoas adultas. Todos nós ainda poderíamos ser pessoas extravagantes. Poderiam as forças que por todas as partes dividem as sociedades, nos invadir e nos esmagar, assim como tinham invadido e destruído o promissor Grupo de Washington, movimento que tinha agrupado alcoólicos há mais de um século atrás. Como poderíamos permanecer juntos em nossa nova filosofia de vida, cujas experiências obtidas da medicina, da religião e de nossas próprias experiências, se não poderíamos crescer com firmeza? Para que Alcoólicos Anônimos fosse um caminho sem fronteiras se tornando uma mensagem universal sem preconceitos, foi desenvolvida uma série de princípios pelos quais vivemos e trabalhamos unidos, bem como nos relacionamos, como  Irmandade, com o mundo que nos cerca.  Esses princípios são chamados de Doze Tradições de Alcoólicos Anônimos. Elas representam as experiências oriundas do passado e hoje nos apoiamos nelas para nos manter em UNIDADE. Claro que o pioneirismo de A.A. não parou e hoje nos sentimos seguros enquanto Irmandade, graças a dedicação dos nossos fundadores e amigos. Esses detalhes da história de A.A. através do mundo revelam a distância que A.A. tem percorrido deste o outono de 1937, quando Dr. Bob e Bill olharam para o futuro com certa apreensão. Naquele tempo, tinha somente o programa por informação verbal, que era a essência da fórmula para alcançar a sobriedade que Ebby tinha dado a Bill. Os serviços mundiais eram somente um sonho. Os Doze Passos de A.A., ainda não tinham sido escritos e o livro Azul era apenas uma ideia. Os serviços mundiais eram, também, mais um sonho. Muito mais poderia ser contado a respeito da mensagem de A.A. chegar aos lugares mais distantes de suas frentes pioneiras. Atualmente há Grupos na Índia e até na Tailândia. Um professor Hindu conseguiu a sobriedade graças à tradução dos Doze Passos.
                Não podemos esquecer a importância dos profissionais que nos ajudaram no início. Em setembro de 1939 o editor da revista Libert, Sr. Fulton Ousler, publicou um artigo chamado “Os Alcoólicos e Deus”; após o jantar com o Sr. Rockefeller em 1940, chegaram muitos pedidos de ajuda. Mas o grande fluxo de pedidos foi em 1941, quando apareceu o artigo de Jack Alexander, no Saturday Evening Post e em 1942 com a ajuda de companheiros e a compreensão de amigos de A.A. foi formado o primeiro grupo de A.A. em prisão, na cidade de Sant Quentin.
                Nas Tradições de A.A. está implícita a confissão de que nossa Irmandade tem suas falhas. Confessamos que temos determinados defeitos como sociedade e que eles nos ameaçam continuamente. As Tradições nos orientam para melhorar nossa maneira de levar a mensagem. No vigésimo aniversário de A.A. estava hasteada uma bandeira com um círculo contendo um triângulo, que representa até hoje, os três Legados de A.A.: RECUPERAÇÃO, onde tudo se baseia e da qual tudo depende. UNIDADE, que tem um enorme significado para o nosso futuro e SERVIÇO, onde o Décimo Segundo Passo é o maior de todos os serviços de A.A. Esta é a razão pela qual dizemos tão frequentemente que ação é a palavra mágica. Ação para levar a mensagem universal.
                Não podemos deixar de registrar o nosso reconhecimento aos amigos da medicina que em suas observações eficazes e cheias de fé, acompanhadas de dedicação e ações construtivas e desinteressadas, nos ajudaram durante estes setenta e cinco anos de existência. Desde o inicio o Dr. Silkwort, outros médicos e associações, nos deram suas aprovações. Dr Foster Kenend, neurologista, Dr. G. Kirby Collier, Dr. Harry M. Tiebout, Dr Johon F. Stouffer, psiquiatras, falaram que A.A. era um grupo de pessoas que vivem independentemente e que obtém os melhores resultados seguindo orientação de sua própria filosofia. Em 1946 falando pela rede NRC, sob os auspícios da Associação Médica Americana, O Dr. W. Bauer fez a seguinte declaração: “Os Alcoólicos Anônimos não são missionários, nem associação antialcoólica. Eles ajudam outros que tenham problemas semelhantes”. Em 1951, o Prêmio Lasker (concedido pela Lasker Foundation, desde 1946, a pessoas que realizaram contribuições significativas a medicina ou que realizaram serviços públicos notórios em medicina), foi concedido a Alcoólicos Anônimos, em reconhecimento pela maneira singular com que vem atacando esse problema social da humanidade. Reconhecemos, também, os clérigos de praticamente todas as religiões, que concederam suas bênçãos a A.A.. A revista episcopal THE LIVING CHURCH escreveu o seguinte editorial: “A base técnica de Alcoólicos Anônimos é o princípio verdadeiramente cristão segundo ao qual um homem não pode ajudar-se a si mesmo, a não ser ajudando aos outros”.
                À medida que a mensagem de A.A. tornou-se um fenômeno notável de recuperação, alcançou um número cada vez maior de pessoas. Em cada um dos países em que a semente de A.A. foi plantada, houve uma explosão de traduções da nossa literatura básica para inúmeros idiomas. O livro Azul está traduzido em quarenta idiomas. Amplas mudanças na sociedade como um todo, se refletem em novos hábitos. Aproveitando os avanços tecnológicos, os membros de A.A., atualmente que dispõem de computador, participam de reuniões em internet, compartilhando experiências com outros alcoólicos de todo o país e do mundo inteiro. Como a mensagem de Alcoólicos Anônimos será sempre um caminho sem fronteiras, graças a essa mensagem universal, em 1945, um membro viajante norte-americano de nome Bob Valentine, amigo de Bill W., de passagem pelo Rio de Janeiro, então Capital do Brasil, conhece uma pessoa também americana (não está totalmente definido se era homem ou mulher), com o nome de Lynn Goodale. Após uma conversa com Bob Valentine, Lynn encontra a sobriedade. A Fundação do Alcoólico era a responsável direta pela correspondência de Alcoólicos Anônimos com a sociedade e o elo entre a correspondência de seus membros. Portanto, em 05 de setembro de 1947, foi fundado o A.A. no Brasil. Em 1962, o médico cearense Vinício M. em convalescença e ainda afastado temporariamente das suas funções profissionais, por licença de saúde para tratamento de desintoxicação hospitalar, em clínica do Rio de Janeiro, concentra a sua atenção em matéria da Revista Brasileira de Medicina e envia correspondência para o General Service Office – G.S.O., em Nova Yorque (EUA), tornando-se assim, o primeiro membro solitário de A.A., com endereço completo em Fortaleza, Capital do Estado do Ceará, conforme consta no Catálogo Mundial (World Directory), então editado anualmente pelo G.S.O. Inscrito no Catálogo Mundial, Vinício M. passa a receber visitas de AAs. estrangeiros e brasileiros, de passagem por Fortaleza. Seu endereço tornou-se ponto de referência para viajantes da Irmandade. Em três de outubro de 1967, ingressa em A.A., no Rio de Janeiro, o companheiro cearense Gladstone. De volta a Fortaleza, Gladstone entra em contato com Vinício. Trabalhando juntos, levam a mensagem de A.A., notadamente no centro de Fortaleza e no dia vinte e sete de junho de 1968 foi realizada, no auditório do Centro de Saúde, na época, existente na Praça José de Alencar, uma reunião pública e nesta foi fundado o A.A. no Ceará. Portanto, A.A. é um caminho sem fronteira – uma mensagem universal.

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